Pesquisa da Ufes motiva criação de lei sobre traumatismos dentários em Brejetuba

Uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas da Ufes (PPGCO) motivou a criação de uma lei no município de Brejetuba, no interior do Espírito Santo. De autoria da estudante Jéssica Giovani e orientada pela professora Maria Helena Miotto, a dissertação avaliou o conhecimento de professores da rede municipal nos primeiros socorros após casos de traumatismos dentários. O estudo constatou o baixo nível de instrução dos docentes e conseguiu propor e aprovar, junto à Câmara Municipal, a Lei nº 936/2022, que institui o treinamento regular sobre o assunto para os professores da rede.

Para garantir a aplicação da lei, o PPGCO conta com o apoio e a parceria do Conselho Regional de Odontologia do Espírito Santo (CRO-ES), que indicará um profissional para realizar a capacitação em Brejetuba, no início de 2023. O treinamento acontecerá sempre a cada ano letivo, antes do início das aulas. 

A pesquisa foi a primeira dissertação de mestrado defendida no programa, criado em 2020. A princípio, conta Jéssica Giovani, a ideia era desenvolver um guia de conduta e promover uma capacitação ao final do estudo. No entanto, durante o 1º Fórum de Pesquisa Odontológica, organizado pelo PPCGO, um dos palestrantes destacou a necessidade de criar legislações para transformar a saúde coletiva. "Isso nos motivou a submeter um projeto de lei à Câmara, e ele foi aprovado por unanimidade", lembra a autora.

Segundo a professora Maria Helena Miotto, a lei aprovada em Brejetuba tem potencial para se estender para outros municípios. "É uma ferramenta de mudança coletiva e social importante, e que visa a melhoria da qualidade de vida. O produto originado neste estudo será espelho para a condução de outros e para a criação de novas políticas de melhoria da saúde", afirma a orientadora. 

Resultados

 pesquisa foi realizada por meio de questionários com 117 docentes da rede municipal de Brejetuba, distribuídos entre as zonas rural e urbana. Os questionários incluíam, além de perguntas sobre a formação e a classe socioeconômica do professor, situações já presenciadas e cenários hipotéticos, de modo a medir o conhecimento de primeiros socorros em casos de traumas dentários.

Nos resultados da pesquisa, foi verificado que 79,5% dos docentes nunca receberam qualquer tipo de treinamento referente a primeiros socorros odontológicos, enquanto 97,4% nunca foram sequer orientados sobre o tópico. Além disso, 56,4% assumiram não ter nenhuma informação a respeito do tema e 91,5% afirmaram não ter segurança para prestar os primeiros socorros.

Para estabelecer se o conhecimento do professor é considerado adequado, foi definido um ponto de corte de 75% de respostas corretas quando apresentados cenários de traumas. Dos 117 docentes, apenas quatro (3,4%) atingiram o percentual mínimo de acertos.

Sequelas

O baixo nível de conhecimento acerca do assunto gera preocupação, uma vez que o atendimento imediato, como mostra a dissertação, pode decidir o prognóstico do caso. "Traumatismos são quadros de urgência odontológica de gravidade significativa, passível de instalar sequelas muitas vezes irreversíveis nos eixos funcionais e estéticos. Podem gerar até limitações psicológicas, caso não sejam conduzidos de maneira adequada", explica a autora.

Segundo ela, o cenário visto em Brejetuba é similar ao de outras localidades, como evidenciam estudos nacionais e internacionais sobre o assunto. Para a autora, uma solução seria incorporar o tema à formação dos professores: "Se consultarmos as Diretrizes Curriculares Nacionais, veremos que nenhuma disciplina da estrutura curricular dos futuros professores aborda o assunto. Isso faz com que eles sejam pegos de surpresa, uma vez que a escola é o cenário de maior prevalência de traumatismos dentários", afirma.

 

Texto: Superintendência de Comunicação da Ufes
Imagem: Depositphotos

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